Direita relativiza ditadura? O que pensam os pré-candidatos à Presidência em 2026

Ditadura militar
Manifestação no Parque do Ibirapuera, em SP, mostra os retratos de pessoas que desapareceram durante a Ditadura Militar no Brasil Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), relativizou a existência da ditadura militar de 1964 durante entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na segunda-feira, 9.

O pré-candidato à Presidência da República em 2026 afirmou que a tensão política à época ocorreu diante do governo João Goulart (PTB) que, segundo o governador, teria quebrado a ordem nacional. Caiado, no entanto, não respondeu se o período de 1964 a 1985 foi uma ditadura.

O governador goiano comentou que o Brasil teve “restrições por atos constitucionais (sic), o AI-5, AI-6, 7, 8, em um período em que aconteceram barbaridades”, e destacou que é preciso olhar para o período com “os olhos de 1964”, sem detalhar o que isso significa.

Questionado, Caiado afirmou que ocorreu uma crise institucional criada pela renúncia do então presidente Jânio Quadros (PTN), em 1961, e a ascensão de Jango, que queria estatizar as terras e causou uma tensão social, o que gerou reação pelo País.

“Foram situações criadas e que provocaram todo esse processo de reação, e que nós viemos para a anistia plena, geral e irrestrita; de um lado havia os militares que praticavam as arbitrariedades, e você tinha os comandos que praticavam os crimes de terrorismo”, disse.

Para Caiado, atualmente não há mais espaço para a reprodução de um regime de exceção. “Isso jamais será reproduzido no país, não tem espaço”, finalizou.

Outro pré-candidato à Presidência que relativizou a ditadura foi o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele afirmou que o período militar é uma “questão de interpretação” e, por isso, cabe aos historiadores “debater”. O político destacou que nunca se aprofundou sobre a questão.

“Eu prefiro não responder, porque acho que há interpretações distintas. E houve terroristas naquela época? Houve também. Então fica aí. Acho que os historiadores é que têm de debater isso. Eu preciso me preocupar, hoje, com Minas Gerais”, disse.

“Tiveram sequestradores e assassinos que receberam anistia, não foi? Nós temos que olhar para o futuro. Quando você está fazendo política e só procurando atacar, diminuir seus adversários, acho que isso prejudica muito o andamento da gestão”, completou.

No início do governo Lula 3, o petista evitou fazer críticas contundentes à atuação das Forças Armadas e chegou a dizer que preferia não ficar remoendo as consequências do golpe de 1964, porque isso “faz parte do ado” e queria “tocar o País para frente”.

Depois, com a grande repercussão da suposta tentativa de golpe de Estado em 2022, Lula afirmou durante a cerimônia de posse do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Brasília: “Por trás dos episódios estão os mesmos ideais autoritários, métodos violentos e os mesmos agentes saudosos dos porões da ditadura”.

Na ocasião, o mandatário disse que o Brasil enfrenta “desafios complexos”. “Nos deparamos com cenário global em que o fascismo ressurge sob novas formas. No Brasil, a intolerância política chegou ao extremo na tentativa de golpe contra a democracia”, citou.

Mais recentemente, no dia 31 de março de 2025, Lula citou o aniversário do golpe de 1964 e destacou que as ameaças autoritárias “insistem em sobreviver” no Brasil.

“Hoje é dia de lembrarmos da importância da democracia, dos direitos humanos e da soberania do povo para escolher nas urnas seus líderes e traçar o seu futuro. E de seguirmos fortes e unidos em sua defesa contra as ameaças autoritárias que, infelizmente, ainda insistem em sobreviver”, escreveu no X.

“Não existe um verdadeiro desenvolvimento inclusivo sem que a voz do povo seja ouvida e respeitada. Não existe justiça sem a garantia de que as instituições sejam sólidas, harmônicas e independentes”, afirmou. “Nosso povo, com muita luta, superou os períodos sombrios de sua história. Há 40 anos, vivemos em um regime democrático e de liberdades, que se tornou ainda mais forte e vivo com a Constituição Federal de 1988. Esta é uma trajetória que, tenho certeza, continuaremos seguindo. Sem nunca retroceder”, completou.

O governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD) não teve declarações públicas sobre a ditadura militar.