Pesquisas divulgadas ao longo de 2024 apontaram uma tendência de crescimento no conservadorismo entre os jovens do sexo masculino ao redor do mundo, enquanto as mulheres da mesma faixa etária se tornam mais progressistas.
Em janeiro de 2024, o repórter-chefe de dados da “Financial Times”, John Burn-Murdoch, compilou estatísticas que indicam uma divergência ideológica entre homens e mulheres na faixa etária dos 18 aos 29 anos. Em países como os EUA e a Alemanha, os jovens do sexo masculino são 30% mais conservadores.
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Nos EUA, essa divergência não era vista nas décadas anteriores, quando a distribuição de pessoas dos dois gêneros que mostravam ideais progressistas e conservadores era similar. O país enfrentou uma “divisão” ideológica entre homens e mulheres jovens nos últimos seis anos.
Nas eleições de 2023 na Polônia, quase metade dos homens dos 18 aos 21 anos apoiavam o partido conservador Confederação, posição que era compartilhada por apenas um sexto das mulheres de mesma idade.
O padrão de diferença entre os gêneros em relação a crenças progressistas e conservadoras é similar em países como a China, a Coreia do Sul e a Tunísia.
A Glocalities, uma agência internacional de pesquisa, divulgou em abril de 2024 um estudo que coletou dados de 300 mil pesquisas em 20 países diferentes, incluindo o Brasil, e determinou que as mulheres entre 18 e 24 anos são provavelmente o “grupo mais liberal da história humana”.
Na ocasião, foram respondidas 43 perguntas para avaliar os valores sociais, incluindo perguntas sobre o patriarcado, flexibilidade de papéis de gênero, casamento entre pessoas do mesmo sexo e coabitação antes do matrimônio.
De acordo com o levantamento, divulgado pela “Reuters”, as mulheres jovens se mostravam preocupadas com questões como abuso, assédio, violência doméstica e negligência, enquanto os homens da mesma faixa etária davam mais importância ao status social e econômico, além de valores familiares conservadores e à competição.
O estudo estabeleceu uma escala que variava de um, sendo mais conservador, a cinco, o mais liberal. O número obtido pelas mulheres de todo o mundo entre os 18 e 24 anos ou de 3,55 em 2014 para 3,78 em 2023.
Enquanto isso, o valor dos jovens do sexo masculino da mesma faixa etária teve um aumento menos expressivo, ando de 3,29 em 2014 para 3,36 em 2023. No mesmo período, os homens de 18 a 34 anos dos EUA se tornaram menos liberais, ando de 3,48 para 3,46.
A pesquisa também indicou que os jovens do sexo masculino de 18 a 24 anos se mostraram mais socialmente conservadores que a faixa etária dos homens de 55 a 70.
O que dizem os especialistas
De acordo com a diretora científica Camila Rocha, do Centro para Imaginação Crítica do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), jovens que se identificam com pautas conservadoras aram a sentir receios sobre sua posição na sociedade após o avanço de pautas progressistas, principalmente as de caráter feminista.
Camila aponta que as ideias conservadoras conseguem vender um projeto que abrange esses jovens que não se sentem “incluídos” nas ideias progressistas.
Além disso, a diretora científica do Cebrap comenta que a percepção desses jovens de que vivem em um período de estagnação econômica e o sentimento de que não poderão alcançar o mesmo padrão de vida que os próprios pais, como emprego estável e moradia, também os levou a crenças alinhadas com o conservadorismo e discursos anti sistema.
Para Ronaldo Tadeu de Souza, pesquisador do Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea) e professor de Teoria Política da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), um dos fatores para o crescimento do conservadorismo entre esses jovens do sexo masculino é a precarização dos direitos trabalhistas e a nostalgia de um ado em que havia uma maior perspectiva de emprego e estabilidade econômica. “Contraditoriamente a isso você tem uma certa evolução no mercado de trabalho feminino”, aponta.