PlatôBR: Uma parte da Esplanada se prepara para disputar eleições

Mais da metade dos ministros deve deixar o governo em abril para se candidatar. Alguns não sabem ainda quais cargos vão disputar, mas estão prontos para aderir à estratégia eleitoral de Lula

Ricardo Stuckert / PR
Foto: Ricardo Stuckert / PR

Faltando um ano e quatro meses para as eleições, as conversas sobre quais ministros podem deixar seus cargos em abril para disputar as eleições estão ocorrendo no governo e a estratégia política conta com a intervenção direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais da metade dos 38 ministros deve deixar o cargo em abril de 2026, cumprindo a exigência da legislação eleitoral, que obriga a desincompatibilização pelo menos seis meses antes do pleito.

Entre os prováveis candidatos no ano que vem estão nomes estratégicos na condução do governo, como os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Simone Tebet (Planejamento), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Renan Filho (Transportes).

Para evitar a interrupção de projetos em andamento, Lula deve manter ministros recém-chegados ou remanejados este ano. Alexandre Padilha (Saúde), por exemplo, pode abrir mão de disputar o cargo de deputado federal por São Paulo para ficar no posto até o fim do governo.

Planos para Alckmin

As conversas sobre desincompatibilização tocam até no vice-presidente, Geraldo Alckmin. O partido dele, o PSB, prioriza a repetição da parceria com Lula na chapa presidencial. Caso seja candidato a qualquer cargo, Alckmin não precisa sair da vice-presidência, mas terá que se desincompatibilizar do comando do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).

O vice-presidente é considerado como um possível candidato ao governo de São Paulo por integrantes do PT, que apontam a necessidade de uma chapa forte nas eleições no maior colégio eleitoral do país. O PSB, porém, rechaça essa ideia. O nome do partido interessado em disputar o Palácio dos Bandeirantes é o do ministro do Empreendedorismo, Márcio França. Ele quer concorrer em uma composição com o PT.

Interrogação sobre Haddad

As saídas afetarão, ainda, o núcleo econômico do governo. Volta e meia, Fernando Haddad é citado como possível substituto de Lula caso o atual presidente decida não concorrer. É uma possibilidade ainda remota, mas colocada no horizonte político, principalmente por causa da idade avançada do presidente.

Com Lula candidato, porém, o nome de Haddad também é mencionado como opção para a disputa do governo de São Paulo ou mesmo para uma vaga no Senado, como parte do plano de Lula de tentar eleger uma bancada forte de senadores para fazer frente ao domínio da oposição na casa. O ministro da Fazenda, que recentemente disse não ser candidato a nada no ano que vem, estaria agora disposto a fazer o que o presidente pedir.

Tebet e Renan: objetivos distintos

Outra integrante do núcleo econômico, a ministra Simone Tebet, do MDB, também sinaliza a possibilidade de deixar o governo para tentar voltar ao Senado em 2026. Seu correligionário Renan Filho tem mais quatro anos como senador garantidos (ele foi eleito em 2022), mas é outro que deve deixar o cargo para participar das eleições. Pretende disputar o governo de Alagoas.

A candidatura de Renan Filho tem também objetivo de montar o palanque governista no estado em uma chapa forte com o pai, o senador Renan Calheiros, candidato à reeleição. Em Alagoas, aliás, Lula ou o candidato que ele lançar ao Planalto pode ter um palanque duplo caso siga no compromisso de também apoiar a candidatura de Arthur Lira (PP-AL) ao Senado.

Gleisi, Silveira e Fávaro: Lula decide

Gleisi Hoffmann está com a situação indefinida, a exemplo de outros colegas de ministério. Quando indagada sobre a possibilidade de concorrer em 2026, ela responde que ainda não houve um pedido de Lula em relação a isso. Deixa claro, portanto, que espera a orientação do presidente para decidir seu futuro. O PT avalia que não pode abrir mão da candidatura da ministra a mais um mandato na Câmara (ela está licenciada) por considerá-la uma peça importante para “puxar votos” em seu estado, o Paraná.

Alexandre Silveira também pode ser uma peça importante para Lula no xadrez de 2026, especialmente na tentativa de montar uma aliança com o PSD em Minas Gerais, onde o presidente quer ter um palanque forte. Silveira deixará o cargo em abril com a intenção de se candidatar ao Senado, mas também é cotado para disputar o governo do estado caso Rodrigo Pacheco, ex-presidente do Senado e também filiado ao PSD, decida não disputar.

Do mesmo partido, o ministro Carlos Fávaro deve se candidatar à reeleição ao Senado pelo Mato Grosso. A saída dele do governo foi, inclusive, mencionada por Lula nesta sexta-feira, 6, em Paris, na cerimônia em que o Brasil recebeu da Organização Mundial da Saúde Animal o certificado com o reconhecimento de que o país está livre da febre aftosa sem vacina. Em tom descontraído, Lula disse que, por causa do certificado, Fávaro se garantiu no cargo até abril, quando deverá ser candidato “a alguma coisa”.

Rui Costa em dilema baiano

O caso Rui Costa, chefe da Casa Civil, é peculiar. Ele também quer disputar uma cadeira no Senado. Mas na Bahia, seu estado de origem, há três candidatos da base governista para uma eleição de apenas duas vagas. O primeiro obstáculo para o ministro é o fato de o aliado PSD querer reeleger Angelo Coronel. O outro está dentro do próprio PT: Jaques Wagner, líder do governo no Senado, quer garantir mais um mandato e reivindica prioridade. Para se livrar desse embaraço, Costa poderia concorrer novamente ao governo. Mas ele descarta essa possibilidade. Prefere a reeleição do aliado Jerônimo Rodrigues.

Na última quinta-feira, 5, o ministro disse em conversa com jornalistas que a decisão sobre quem será candidato só será tomada no final deste ano ou no início de 2026. “No Brasil, as eleições são sempre em anos pares. Nos ímpares, precisamos nos dedicar ao trabalho. Em 2025, é o ano da entrega. Se anteciparmos o debate eleitoral, ninguém trabalha no país”, disse.

Entre os ministros de Lula que têm mandato no Senado até 2030, alguns ficarão no governo até o final. Dois petistas estão nessa situação: Camilo Santana (Educação), do Ceará, e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), do Piauí.